terça-feira

Amália, o filme


En Junho de 2008 foi apresentada na Estufa Fria, em Lisboa, a primeira biografia ficcionada sobre a cantora de fados Amália Rodrigues... começava o filmagem. Hoje, com dois meses já desde a sua estréia, a crítica divide-se. Mas "Amália" é uma história de amores e de glória, uma história dramática e de exaltação. A cantora mostra-se como uma figura contagiante, entre o lado luminoso e a atracção pelas sombras. O ponto de partida é uma noite de 1984 em Nova Iorque: Amália vai matar-se. A obsessão pela morte vem da adolescência, ela está doente, pensa que é agora. Abre as portas da varanda da sua suite, sobe um degrau do parapeito e olha para o abismo. E é nesse momento, debruçada sobre o abismo, que Amália revê uma vida de génio artístico, de sucesso planetário, mas também de frieza familiar, de desilusões amorosas, em que avulta uma paixão impossível, a relação controversa com a extrema melancolia do fado, que não ama por se aproximar demasiado das sombras da sua vida mas que faz vibrar como ninguém, dando ao filme os seus momentos mais espectaculares. De 1954 a 1984, são trinta anos em busca de um equilíbrio que escapa ao mesmo tempo que consegue o maior sucesso mundial.  Sandra Barata Belo é quem interpreta a Amália neste filme, e não todos estiveram de acordo com a escolha no começo, ainda mais... este é um dos handicaps que, para alguns, apresenta o filme (um erro na minha opinião). Barata Belo estudou os gestos, o comportamento, a cadência do canto e da fala, descobriu-lhe a timidez e a insegurança e as variações entre a alegria e a tristeza nos anos que o filme abrange. Teve tudo registrado num caderno, uma espécie de diário, um mapa cartográfico das emoções nas diferentes cenas do filme, variando entre a euforia e a vontade de resistir. 'O mais difícil é atingir a profundidade dela, mais do que a tristreza' refere a actriz. 'Não gosto de imitações. Eu tenho um bocado de aversão a essa palavra, porque acho que imitar é limitado. Eu gosto de criar. Eu sei que ela existiu, que passou por determinadas situações, mas aquilo que vou fazer é recriála, então também tenho que ter alguma coisa minha nesse processo. É a minha maneira e a maneira de nós todos, no filme "Amália", olharmos a Amália', sublinha. Um bom trabalho ainda para muitos por descobrir.

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